O que é calculado durante uma partida? (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)
Quem gosta de futebol não quer só ver o time do coração ser campeão
ou a bola na rede: todos os lances de um jogo, os craques e as táticas
dos treinadores são tão incríveis quanto um grito de gol.
Mas ter acesso a vários dados do esporte favorito dos brasileiros não
seria possível sem tecnologias de reconhecimento, algoritmos complexos e
cálculos que levariam dias para serem feitos por pessoas, mas que saem
em poucos segundos com a ajuda de um computador.
O processo de captura pode parecer bastante simples (e é mesmo,
depois de tudo programado), mas configurá-lo exige tanta paixão pela
engenharia quanto pelo esporte – tudo para mostrar a você se a nova
contratação do seu time não é, na verdade, um verdadeiro perna de pau.
Big Brother Maracanã
O primeiro passo para analisar os jogos é instalar câmeras ao redor
do estádio. Mas, ao contrário daquelas usadas na televisão e que
precisam sempre acompanhar a bola, essas permanecem estáticas e gravam
tudo o que se passa por uma determinada zona do gramado.
Durante a partida, esse material é passado para um computador que
imediatamente analisa a partida e começa a contagem de passes, desarmes,
chutes a gol, distância percorrida e até definir quem foi o melhor
jogador da partida – tudo isso inspecionado por especialistas nos
eletrônicos e no mundo da bola.
As câmeras ficam de olho em setores do campo e passam tudo para um banco de dados. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)
Para isso, os softwares são programados inicialmente para reconhecer a
bola, mesmo que ela esteja em movimento. Em seguida, os atletas são
marcados individualmente a partir do mesmo método, sendo que até as duas
pernas do jogador recebem algoritmos diferenciados. Com tudo
configurado, é só aguardar o computador “assistir” a tudo e anotar
quantos desarmes a zaga de um time realizou ou de qual lado do campo
saíram mais ataques.
Pessoas, bolas e até partes do corpo são marcada pelos sensores. (Fonte da imagem: Reprodução/Elsevier)
Se não fossem usadas essas câmeras no esporte, imagine o trabalho:
uma pessoa teria que ficar responsável por cada jogador e não poderia
desgrudar os olhos da pessoa durante os 90 minutos. Perca um passe
errado e as estatísticas já saem erradas – e nem tudo acontece com a
bola no pé, já que há fatores como posicionamento tático e marcação.
Linhas de passe
Já dizia o jogador Dadá Maravilha, que foi atacante do Atlético-MG e
do Brasil: “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol”. Mas os
computadores discordam disso: para eles, cada toque na bola, por mais
inútil que seja na construção das jogadas, é crucial na formação de
estatísticas.
Um dos sistemas de avaliação mais famoso do futebol é o StatsZone,
da revista britânica FourFourTwo, que disponibiliza um aplicativo
gratuito com dados da Premier League (o campeonato inglês) e mostra
esses números da maneira mais simples possível.
As linhas em azul da direita mostram os inúmeros passes certos do time de Messi. (Fonte da imagem: Reprodução/StatsZone)
O melhor exemplo é o acima, do segundo jogo da semifinal da UEFA
Champions Legue deste ano entre Barcelona e Chelsea. Ao traçar linhas
sobre o posicionamento e os passes de ambas as equipes, o software
explicou que, apesar de dominar a partida e criar jogadas durante todo o
jogo, o time espanhol não foi capaz de furar a retranca inglesa.
Mas o Brasil também está muito bem representado pelo FootStats,
uma empresa de trabalho similar que cobre as principais competições
nacionais e que tem como clientes portais de notícia, times de futebol e
empresários de atletas.
Jornalistas desempregados
A Narrative Science é um dos maiores e mais respeitados veículos da
imprensa norte-americana. Mas pouca gente a conhece, seu escritório é
pequeno e há apenas 30 pessoas trabalhando lá – são os computadores que
mandam em tudo. O serviço? Criar algoritmos capazes de gerar notícias
escritas de maneira tão precisa quanto qualquer jornalista humano.
O processo da companhia já é usado até em previsões do tempo, mas
sites de esportes também já emprestam os robôs-jornalistas. O processo
ocorre em vários passos: primeiro, a máquina analisa uma série de bancos
de dados estatísticos coletados a partir dos métodos já explicados. Em
seguida, engenheiros programam “regras” para usá-los, como calcular que
time acertou mais passes no campeonato ou qual a equipe que mais tem
chances de ser rebaixada.
(Fonte da imagem: ThinkStock)
Por fim, jornalistas humanos criam modelos de notícia prontos,
faltando só encaixar os dados coletados pelo computador, além de um
dicionário com termos técnicos do esporte, como “matador” e
“frangueiro”. Com todos os termos configurados, os algoritmos constroem
as frases e montam o texto, que pode ser parecido com este.
Apesar de fazer algumas notícias artificiais, o software pode até
usar adjetivos. Imagine que um atacante chutou 15 vezes ao gol durante
um jogo e errou todos os disparos. Uma máquina que calcula isso pode
consultar também a média de acertos no campeonato inteiro, notar que o
jogador em questão foi mal nas estatísticas e criar títulos como “Com
mira ruim, Fulano é o pior atacante do Brasileirão”.
O brasileiro FootStats é usado como fonte para várias notícias. (Fonte da imagem: Reprodução/FootStats)
Nos Estados Unidos, os avanços nessa área são muito maiores (e mais
arriscados): a cobertura é feita também com beisebol, futebol americano e
basquete, sendo analisados por um time de softwares. Além disso, os
textos escritos nem passam mais por revisões, pois a escrita é feita
dentro dos padrões da máquina. No Brasil, o Globoesporte.com utilizou em
2011 um sistema de algoritmos criado em parceria com a PUC-RJ, mas
apenas em algumas notícias do Campeonato Brasileiro e com a avaliação
dos editores do site.
Isso porque há polêmicas: o estilo de escrita de um repórter é único e
só ele é capaz de observar o que está além das estatísticas, como
fatores psicológicos e outras características que, por mais que possam
ser calculadas por gráficos e câmeras, são o que fazem do futebol uma
atividade essencialmente humana.
Fontes: Wired, Info, StatsZone, FootStats, Elsevier
http://www.tecmundo.com.br/futebol/26738-como-softwares-analisam-partidas-de-futebol-.htm